segunda-feira, 25 de julho de 2016

Ao propósito, um retorno

Depois de mais de dois meses de abandono, eis que o blog retorna!

Hoje resolvi escrever UM POUCO (é impossível colocar tudo numa postagem só) sobre como as escolas funcionam aqui no Japão. Me baseei em livros sobre a educação japonesa, publicados em inglês (de autores estrangeiros e também japoneses), assim como nas visitas que já fiz a algumas escolas.

No Japão existem escolas públicas e particulares, assim como no Brasil. Porém, nas escolas públicas japonesas é necessário pagar uma taxa anual de despesas, mas que ainda sai mais barato do que o custo de uma escola particular. Em ambas, o currículo é determinado pelo Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia (ficou curioso? Clique aqui >> http://www.mext.go.jp/english/). Portanto, não importa em qual canto do Japão você esteja, os mesmos conteúdos serão aprendidos na mesma época do ano em todas as escolas. Isso não impede, porém, que o professor crie os próprios meios para compartilhar os conteúdos. 

Dificilmente uma escola japonesa possui todas as séries. Normalmente as escolas são divididas em: yochien = jardim de infância; shogakko = da alfabetização ao sexto ano; chugakko = do sétimo ao nono ano; kokko = três anos do ensino médio. Para passar para o ensino médio, que não é obrigatório (mas mesmo assim quase toda a população faz) é necessário fazer prova de admissão, o que acostuma os japoneses na competição por vagas, visto que os vestibulares das universidades são muito disputados. Por conta disso, tornaram-se populares no país os jukku, que são cursinhos que oferecem aulas extras desde as séries iniciais. Mesmo que o estudante não precise, normalmente é colocado no jukku diariamente, após sair da escola, para que não corra o risco de ficar com a imagem de incapaz perante os colegas.

A rotina das escolas é extremamente rigorosa e seguida sem exceções de acordo com o planejamento. As aulas começam por volta de 8:30 da manhã e terminam por volta de 3:30 da tarde. Cada dia de aula se inicia e termina com breves reuniões de classe, para avaliar coletivamente o que é necessário melhorar nas aulas vindouras. Os professores são respeitados, muitas vezes recebidos de pé pelos alunos, com um aceno de cabeça. Os uniformes são em estilo formal, com camisas de botão, sapatos, meias longas, com proibição de acessórios que destoem do resto (assim como esmaltes e maquiagem). As escolas se mantém limpas pelos próprios alunos, professores e funcionários, pois pegar em vassouras e panos não é demérito para ninguém. Após as aulas, os alunos vão para os “clubes”, que são atividades extracurriculares na própria escola, na maioria das vezes conduzidas pelos próprios professores da instituição, e um tanto polêmicas em termos de salário, pois dificilmente os professores são pagos por elas (com a justificativa de que um dom deve ser sempre exercitado e não deve ser medido com dinheiro... Mas “ai” do professor que se recusar a exercer tais atividades!). Além dos 240 (exagerados!) dias letivos, os professores são orientados a se sentirem responsáveis pelos seus alunos até mesmo durante fins de semana e feriados, monitorando suas vidas sempre que possível e até mesmo indo em suas casas, o que não é nada assustador para as famílias, que querem sempre manter a boa aparência numa sociedade onde qualquer fofoca, ainda que seja boato, pode terminar em tragédias de orgulho manchado.

Um aspecto que considero muito válido aqui é que todo o corpo docente e administrativo deve ser trocado de tempos em tempos. Já encontrei livros que afirmaram ser a cada quatro anos, outros três, enfim... A ideia é reproduzir boas experiências em todas as escolas, lidando sempre com novos desafios. Quanto maior o sucesso adquirido em uma escola, maiores as chances daquele profissional responsável pelo feito ir para uma escola de péssima reputação em sua próxima jornada, para corrigir a situação. E, claro, há reajuste salarial neste trânsito, sim.    

Outro aspecto, essencial, que me deixa até com uma ponta de inveja: música é disciplina obrigatória. Não preciso dizer mais nada.

Concluindo, deixo claro que nem tudo é perfeito. Talvez nossa mídia só enalteça os aspectos positivos do Japão diante das nossas necessidades básicas nas escolas brasileiras. Mas em outros aspectos, principalmente na criatividade e no pensamento crítico, estamos muito à frente.

Como sempre, estou aberta a dúvidas. Até a próxima!