Olá! こんにちわ。
Depois de muito tempo de abandono por conta de preparar tudo para voltar a morar no Brasil, cá estou! Mas o Japão nunca ficará esquecido.
Hoje vou falar sobre a Daiso, uma loja japonesa famosa, que possui várias unidades espalhadas pelo país e tem também uma unidade em São Paulo. Nessa loja, quase todos os produtos custam 100 ienes, o que corresponde a R$2,77. A Daiso não é a única loja do Japão que funciona nesse estilo, existem várias outras, mas ela é a mais famosa.
Lá é possível encontrar itens de papelaria, artesanato, jardinagem, limpeza, cozinha, vestuário, acessórios, decoração, brinquedos e até mesmo comida!
Resolvi tirar umas fotos para mostrar umas curiosidades de lá para vocês.
Rosários budistas, para oração.
Adesivos para carro. O verde e amarelo indica que o motorista tirou carteira de motorista há menos de um ano. O de quatro cores indica que o motorista é idoso.
Carimbos de nomes, para assinar documentos e afins. No Japão não há assinatura por extenso, à caneta, como é feito aqui.
Enfeites para a marmita das crianças. No Japão, muitas mães disputam a beleza na marmita (bentou) de seus filhos. É, pois é, elas criam tempo pra isso...
Muitas forminhas de papel fofas.
Lanchinhos bem comuns por lá, como algas, peixes e outros frutos do mar desidratados.
Máscaras de algodão ou silicone, para aplicar produtos cosméticos na pele. Algumas já possuem o produto, outras não.
Vários estilos de cotonete, inclusive reutilizáveis.
Adesivos para colar na pálpebra, de forma a mantê-la mais aberta.
Diferente, né?!
Até a próxima! またね。
Meu Japão
quinta-feira, 11 de maio de 2017
domingo, 8 de janeiro de 2017
Kamagasaki, um Japão que é pobre
Em novembro de 2016, tive a oportunidade de conhecer Kamagasaki, um bairro na cidade de Osaka. A visita foi parte do cronograma de eventos do programa Teacher Training, do qual faço parte. Eu já tinha ouvido falar de Kamagasaki como "a favela do Japão", mas, sendo brasileira e tendo uma definição bem diferente de favela, eu chamaria Kamagasaki de "bairro onde se concentram famílias mais pobres e moradores de rua".
Quem nos recebeu foi um senhor que pertence a um grupo de apoio a moradores de rua, pertencente à Igreja Católica. Ele nos guiou pelo bairro, caminhando por aproximadamente meia hora, e pediu apenas que não tirássemos fotografias dos moradores. Os perfis dos moradores do bairro variam entre aqueles que conseguem emprego de baixíssima remuneração e podem pagar aluguel popular em prédios pertencentes ao governo e aqueles que moram na rua, sob barracas, papelões, cobertores ou qualquer outro material que os proteja do frio. Há a opção de dormir em abrigos noturnos, mas muitos moradores preferem seu próprio canto.
Curiosamente, não senti nenhum medo em andar por lá. Não havia nenhuma ameaça à vista, muito menos a presença da polícia nas ruas. Havia, sim, pessoas muito pobres, de cabeças baixas, sobrevivendo ao frio da noite. Apenas um morador se aproximou de nós, pedindo dinheiro e dizendo que japoneses não gostavam de estrangeiros. Vejam bem a colocação dele: "japoneses", não "os moradores de rua". Ainda assim, não nos forçou a nada, não nos encostou a mão e ainda desejou Feliz Natal, antes de sair caminhando pelas ruas extremamente limpas e bem sinalizadas de um bairro considerado extremamente pobre.
E essa pobreza, por que está no Japão? E por que logo ali, em Kamagasaki? Os moradores, em sua maioria, são pessoas desempregadas ou com empregos não formais (bicos) e que foram consideradas uma vergonha pelas suas famílias ou por si próprios. Vergonha no Japão é um sentimento levado a sério e que pode acarretar desde muitos pedidos de perdão, ou afastamento de entes próximos a até mesmo o suicídio. Conforme moradores de rua foram se concentrando ali, outros moradores de outras cidades japonesas, ao saberem da existência deste local, juntaram o pouco que tinham e decidiram ir para lá (essas migrações ocorrem até hoje), pois o bairro ficou conhecido como um lugar que aceita receber quem não tem um teto. Justamente por isso, não é difícil para muitas famílias encontrarem entes afastados em todo o território japonês, pois eles costumam ir para Kamagasaki.
O espaço desse bairro contém, além de suas ruas e prédios, praças onde é permitido construir os pequenos barracos; máquinas de vendas de bebidas a preços mais acessíveis (e presas por correntes, coisa que não acontece no restante do Japão); tabelas e mapas espalhados com informações sobre pontos de ajuda e doações e um hospital. A ajuda que mais tem demanda é a alimentar e, por isso, muitos voluntários vão diariamente servir comidas nas praças. O hospital, mesmo sendo público, não é gratuito, porém quem não pode pagar deve assinar um termo se comprometendo a pagar quando possível. E este sistema dificilmente dá errado.
Praça com TV.
Mapa do bairro e tabela com informações das ONGs.
Máquinas de vendas de bebidas.
Ouvimos relatos de problemas com uso de drogas e prostituição no local, mas em pouca quantidade se comparado ao Brasil ou a outros países. Outro relato considerado como problema foi sobre os moradores de rua com deficiência mental, pois são considerados os mais difíceis de serem reinseridos em algum emprego ou atividade voluntária para a comunidade, de acordo com as ONGs locais.
Crianças não apareceram sob nossas vistas, pois a visita foi feita à noite. Todas são assistidas pelo governo, com direito a duas refeições garantidas pelo próprio governo e escola. Achei pouco apenas duas refeições, ainda mais vindo de um governo de país desenvolvido, mas em alguns momentos preferi engolir minha fala ao notar o olhar apreensivo da minha coordenadora para nós, na possibilidade de ter que traduzir alguma pergunta considerada estranha aos japoneses. Pois sim, até na miséria, a formalidade ainda fala mais alto.
Não só de luzes de neon e personagens diversos vive o Japão, infelizmente.
Quem nos recebeu foi um senhor que pertence a um grupo de apoio a moradores de rua, pertencente à Igreja Católica. Ele nos guiou pelo bairro, caminhando por aproximadamente meia hora, e pediu apenas que não tirássemos fotografias dos moradores. Os perfis dos moradores do bairro variam entre aqueles que conseguem emprego de baixíssima remuneração e podem pagar aluguel popular em prédios pertencentes ao governo e aqueles que moram na rua, sob barracas, papelões, cobertores ou qualquer outro material que os proteja do frio. Há a opção de dormir em abrigos noturnos, mas muitos moradores preferem seu próprio canto.
Curiosamente, não senti nenhum medo em andar por lá. Não havia nenhuma ameaça à vista, muito menos a presença da polícia nas ruas. Havia, sim, pessoas muito pobres, de cabeças baixas, sobrevivendo ao frio da noite. Apenas um morador se aproximou de nós, pedindo dinheiro e dizendo que japoneses não gostavam de estrangeiros. Vejam bem a colocação dele: "japoneses", não "os moradores de rua". Ainda assim, não nos forçou a nada, não nos encostou a mão e ainda desejou Feliz Natal, antes de sair caminhando pelas ruas extremamente limpas e bem sinalizadas de um bairro considerado extremamente pobre.
E essa pobreza, por que está no Japão? E por que logo ali, em Kamagasaki? Os moradores, em sua maioria, são pessoas desempregadas ou com empregos não formais (bicos) e que foram consideradas uma vergonha pelas suas famílias ou por si próprios. Vergonha no Japão é um sentimento levado a sério e que pode acarretar desde muitos pedidos de perdão, ou afastamento de entes próximos a até mesmo o suicídio. Conforme moradores de rua foram se concentrando ali, outros moradores de outras cidades japonesas, ao saberem da existência deste local, juntaram o pouco que tinham e decidiram ir para lá (essas migrações ocorrem até hoje), pois o bairro ficou conhecido como um lugar que aceita receber quem não tem um teto. Justamente por isso, não é difícil para muitas famílias encontrarem entes afastados em todo o território japonês, pois eles costumam ir para Kamagasaki.
O espaço desse bairro contém, além de suas ruas e prédios, praças onde é permitido construir os pequenos barracos; máquinas de vendas de bebidas a preços mais acessíveis (e presas por correntes, coisa que não acontece no restante do Japão); tabelas e mapas espalhados com informações sobre pontos de ajuda e doações e um hospital. A ajuda que mais tem demanda é a alimentar e, por isso, muitos voluntários vão diariamente servir comidas nas praças. O hospital, mesmo sendo público, não é gratuito, porém quem não pode pagar deve assinar um termo se comprometendo a pagar quando possível. E este sistema dificilmente dá errado.
Praça com TV.
Mapa do bairro e tabela com informações das ONGs.
Máquinas de vendas de bebidas.
Ouvimos relatos de problemas com uso de drogas e prostituição no local, mas em pouca quantidade se comparado ao Brasil ou a outros países. Outro relato considerado como problema foi sobre os moradores de rua com deficiência mental, pois são considerados os mais difíceis de serem reinseridos em algum emprego ou atividade voluntária para a comunidade, de acordo com as ONGs locais.
Crianças não apareceram sob nossas vistas, pois a visita foi feita à noite. Todas são assistidas pelo governo, com direito a duas refeições garantidas pelo próprio governo e escola. Achei pouco apenas duas refeições, ainda mais vindo de um governo de país desenvolvido, mas em alguns momentos preferi engolir minha fala ao notar o olhar apreensivo da minha coordenadora para nós, na possibilidade de ter que traduzir alguma pergunta considerada estranha aos japoneses. Pois sim, até na miséria, a formalidade ainda fala mais alto.
Não só de luzes de neon e personagens diversos vive o Japão, infelizmente.
domingo, 13 de novembro de 2016
Historinhas para não esquecer
Em mais de um ano de Japão, às vezes esqueço as engraçadas e curiosas histórias que já presenciei por aqui. Hoje, então, resolvi registrar algumas para compartilhar com vocês!
1) Você está aqui.
Eu e uma amiga resolvemos ir ao cinema de bicicleta. No meio do caminho, o pneu dela furou, largamos as bicicletas no estacionamento mais próximo, tiramos foto do ponto de ônibus que tinha ao lado, para termos uma referência a dar para o taxista na hora da volta (o filme acabava depois do último horário de ônibus). Na volta, não sabíamos como pronunciar o nome daquele ponto de ônibus (cada um aqui tem um nome, como se fosse nome de estação de metrô), então pedimos ajuda a um senhor que estava no ponto de táxi, mostrando a foto na tela do celular a ele. Ele então responde, falando em inglês: "Você está aqui". Nos demos conta então, de que não havíamos tirado a foto do nome do ponto de ônibus, mas sim do mapa que mostrava a localização desse ponto! Custou, mas chegamos em casa.
2) Número 4, por favor.
Segunda semana minha no Japão, resolvo almoçar sozinha em um restaurante de udon (macarrão japonês). Queria comer a promoção número 4, que era udon com tempurá. Eu não sabia falar "número quatro", sabia apenas falar "quatro" e ainda completei com o gesto na mão. Eis que a garçonete vem com quatro tigelas de udon para mim. Rimos bastante!
3) Ainda não estamos abertos.
Março de 2016, Kyoto, frio. Três moças desesperadas por um rámen no fim da tarde, entramos num restaurante bem aconchegante. A garçonete prontamente diz: "São 5:45. Só abrimos às 6." Questionamos: "Mas a porta está aberta...". Ouvimos: "Sim, está aberta, mas o serviço não começou. Voltem daqui a quinze minutos." Foram os mais longos e frios quinze minutos perambulando pela rua até voltar lá. Valeu muito, foi um dos melhores rámens já comidos aqui.
4) Mas que dia?
Eu e meu tutor tentávamos marcar um horário para eu assinar uns documentos da tutoria dele. "Que dia você pode?", perguntou o japa. "Nas quintas não posso de forma alguma. Segundas, terças e sextas, das 12h às 13:30, tenho aula. Os meus outros compromissos são flexíveis, então escolha um horário que não bata com esses que eu te falei". "Mas então, que dia?".
Looping infinito nessa conversa... Eles não funcionam sem uma agenda na mão e dar opções de escolha é algo que os deixa muito confusos.
5) Encontro um adolescente no trem. Só de olhar, notei que era brasileiro, mas fiquei na minha. Ele começou a conversar em inglês com um conhecido dele, mas o inglês dele era muito básico, e eu percebi que estava confuso, então ofereci ajuda. Depois disso e algumas conversas até o destino final, eis o histórico do rapazinho: filipino de nascença, japonês de criação, alma de brasileiro (com direito a sotaque de SP) por conta do padrasto, pessoa que ele mais admira na vida.
Demorei dias tentando imaginar o que a palavra "identidade" deve significar para aquele menino.
***
Essas são algumas histórias, apenas. Quem sabe, um dia, se eu lembrar de mais algumas, eu vá escrevê-las aqui.
またね。
1) Você está aqui.
Eu e uma amiga resolvemos ir ao cinema de bicicleta. No meio do caminho, o pneu dela furou, largamos as bicicletas no estacionamento mais próximo, tiramos foto do ponto de ônibus que tinha ao lado, para termos uma referência a dar para o taxista na hora da volta (o filme acabava depois do último horário de ônibus). Na volta, não sabíamos como pronunciar o nome daquele ponto de ônibus (cada um aqui tem um nome, como se fosse nome de estação de metrô), então pedimos ajuda a um senhor que estava no ponto de táxi, mostrando a foto na tela do celular a ele. Ele então responde, falando em inglês: "Você está aqui". Nos demos conta então, de que não havíamos tirado a foto do nome do ponto de ônibus, mas sim do mapa que mostrava a localização desse ponto! Custou, mas chegamos em casa.
2) Número 4, por favor.
Segunda semana minha no Japão, resolvo almoçar sozinha em um restaurante de udon (macarrão japonês). Queria comer a promoção número 4, que era udon com tempurá. Eu não sabia falar "número quatro", sabia apenas falar "quatro" e ainda completei com o gesto na mão. Eis que a garçonete vem com quatro tigelas de udon para mim. Rimos bastante!
3) Ainda não estamos abertos.
Março de 2016, Kyoto, frio. Três moças desesperadas por um rámen no fim da tarde, entramos num restaurante bem aconchegante. A garçonete prontamente diz: "São 5:45. Só abrimos às 6." Questionamos: "Mas a porta está aberta...". Ouvimos: "Sim, está aberta, mas o serviço não começou. Voltem daqui a quinze minutos." Foram os mais longos e frios quinze minutos perambulando pela rua até voltar lá. Valeu muito, foi um dos melhores rámens já comidos aqui.
4) Mas que dia?
Eu e meu tutor tentávamos marcar um horário para eu assinar uns documentos da tutoria dele. "Que dia você pode?", perguntou o japa. "Nas quintas não posso de forma alguma. Segundas, terças e sextas, das 12h às 13:30, tenho aula. Os meus outros compromissos são flexíveis, então escolha um horário que não bata com esses que eu te falei". "Mas então, que dia?".
Looping infinito nessa conversa... Eles não funcionam sem uma agenda na mão e dar opções de escolha é algo que os deixa muito confusos.
5) Encontro um adolescente no trem. Só de olhar, notei que era brasileiro, mas fiquei na minha. Ele começou a conversar em inglês com um conhecido dele, mas o inglês dele era muito básico, e eu percebi que estava confuso, então ofereci ajuda. Depois disso e algumas conversas até o destino final, eis o histórico do rapazinho: filipino de nascença, japonês de criação, alma de brasileiro (com direito a sotaque de SP) por conta do padrasto, pessoa que ele mais admira na vida.
Demorei dias tentando imaginar o que a palavra "identidade" deve significar para aquele menino.
***
Essas são algumas histórias, apenas. Quem sabe, um dia, se eu lembrar de mais algumas, eu vá escrevê-las aqui.
またね。
sábado, 1 de outubro de 2016
O lixo nosso de cada dia
Uma frase que eu, infelizmente, já cansei de escutar de brasileiros, muitos deles alunos meus, foi a seguinte: "Deixei o lixo no chão sim, não tem lixeira por aqui."
Isso, além de vergonhoso, só piora o espaço em que vivemos. Ao invés de transferir a responsabilidade, que tal aprender a lidar com ela da mesma forma com que os japoneses fazem?
Bem, falemos, portanto, do lixo no Japão:
1) Não há lixeiras nas ruas! Isso mesmo, nem nas ruas, nem nos corredores das escolas, nos pátios... Onde estão e quais são os tipos de lixeira mais comuns que podemos encontrar?
- Lixeira para garrafas pet, ao lado das máquinas de bebidas (chamadas Jidouhanbaiki);
- Lixeira nos banheiros públicos para materiais que não sejam papel higiênico (estes devem sempre ser descartados no vaso sanitário);
2) E se eu gerar lixo fora de casa?
- Você vai carregá-lo com você e separar corretamente em casa ou em um local apropriado, para o descarte. Seu lixo, sua responsabilidade. Ninguém aqui sente vergonha por carregar a sacola de lixo até chegar num local certo para descartar.
3) E quais são as exceções?
- Há situações e lugares em que é possível encontrar latas de lixo com coleta seletiva, como grandes atrações turísticas ou festivais de rua. Nesses casos, as lixeiras são separadas por cores, normalmente têm desenhos indicando o tipo de lixo correto, e podem ter informações em inglês. Em japonês, os termos mais usados na separação do lixo são "moeru gomi" e "moenai gomi" (lixo queimável e não queimável, respectivamente).
4) Como funciona o descarte domiciliar?
- Cada cidade tem seu calendário específico de coleta de determinados materiais. Todo cidadão recebe uma cópia na caixa do correio ou pode fazer o download no site da prefeitura. Na cidade em que moro, por exemplo, esse é o link para download: http://www.tsukubainfo.jp/download/download.html . No calendário, é bem fácil identificar, por cores, desenhos e palavras em inglês, qual o lixo correto de cada dia. Aqui vai um exemplo de agosto a novembro:
- Não se pode deixar o lixo na frente de casa e esperar o lixeiro pegar! Cada bairro tem áreas específicas (nunca muito distantes) para isso.
5) O descarte é ótimo, mas a geração... Infelizmente, o Japão é um país que gera muito lixo, por ser muito industrializado e ter também um alto grau de consumo. Além disso, a quantidade de embalagens, principalmente plásticas, nos produtos é extrema (existe até pote de alho descascado, com os dentes embalados um a um em plástico!). Sendo assim, julgo eu que o Japão ainda tem muito o que aprender em relação à redução do consumo e também à reutilização dos produtos, pois a reciclagem funciona, mas devemos lembrar que ela gasta energia também.
Vamos então deixar a preguiça e a vergonha de lado? Carreguemos nossas sacolas!
Até a próxima!
Isso, além de vergonhoso, só piora o espaço em que vivemos. Ao invés de transferir a responsabilidade, que tal aprender a lidar com ela da mesma forma com que os japoneses fazem?
Bem, falemos, portanto, do lixo no Japão:
1) Não há lixeiras nas ruas! Isso mesmo, nem nas ruas, nem nos corredores das escolas, nos pátios... Onde estão e quais são os tipos de lixeira mais comuns que podemos encontrar?
- Lixeira para garrafas pet, ao lado das máquinas de bebidas (chamadas Jidouhanbaiki);
- Lixeira nos banheiros públicos para materiais que não sejam papel higiênico (estes devem sempre ser descartados no vaso sanitário);
2) E se eu gerar lixo fora de casa?
- Você vai carregá-lo com você e separar corretamente em casa ou em um local apropriado, para o descarte. Seu lixo, sua responsabilidade. Ninguém aqui sente vergonha por carregar a sacola de lixo até chegar num local certo para descartar.
3) E quais são as exceções?
- Há situações e lugares em que é possível encontrar latas de lixo com coleta seletiva, como grandes atrações turísticas ou festivais de rua. Nesses casos, as lixeiras são separadas por cores, normalmente têm desenhos indicando o tipo de lixo correto, e podem ter informações em inglês. Em japonês, os termos mais usados na separação do lixo são "moeru gomi" e "moenai gomi" (lixo queimável e não queimável, respectivamente).
4) Como funciona o descarte domiciliar?
- Cada cidade tem seu calendário específico de coleta de determinados materiais. Todo cidadão recebe uma cópia na caixa do correio ou pode fazer o download no site da prefeitura. Na cidade em que moro, por exemplo, esse é o link para download: http://www.tsukubainfo.jp/download/download.html . No calendário, é bem fácil identificar, por cores, desenhos e palavras em inglês, qual o lixo correto de cada dia. Aqui vai um exemplo de agosto a novembro:
- Não se pode deixar o lixo na frente de casa e esperar o lixeiro pegar! Cada bairro tem áreas específicas (nunca muito distantes) para isso.
5) O descarte é ótimo, mas a geração... Infelizmente, o Japão é um país que gera muito lixo, por ser muito industrializado e ter também um alto grau de consumo. Além disso, a quantidade de embalagens, principalmente plásticas, nos produtos é extrema (existe até pote de alho descascado, com os dentes embalados um a um em plástico!). Sendo assim, julgo eu que o Japão ainda tem muito o que aprender em relação à redução do consumo e também à reutilização dos produtos, pois a reciclagem funciona, mas devemos lembrar que ela gasta energia também.
Vamos então deixar a preguiça e a vergonha de lado? Carreguemos nossas sacolas!
Até a próxima!
segunda-feira, 25 de julho de 2016
Ao propósito, um retorno
Depois de mais de dois meses de abandono, eis que o blog retorna!
Hoje resolvi escrever UM POUCO (é impossível colocar tudo numa postagem só) sobre como as escolas funcionam aqui no Japão. Me baseei em livros sobre a educação japonesa, publicados em inglês (de autores estrangeiros e também japoneses), assim como nas visitas que já fiz a algumas escolas.
No Japão existem escolas públicas e particulares, assim como no Brasil. Porém, nas escolas públicas japonesas é necessário pagar uma taxa anual de despesas, mas que ainda sai mais barato do que o custo de uma escola particular. Em ambas, o currículo é determinado pelo Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia (ficou curioso? Clique aqui >> http://www.mext.go.jp/english/). Portanto, não importa em qual canto do Japão você esteja, os mesmos conteúdos serão aprendidos na mesma época do ano em todas as escolas. Isso não impede, porém, que o professor crie os próprios meios para compartilhar os conteúdos.
Dificilmente uma escola japonesa possui todas as séries. Normalmente as escolas são divididas em: yochien = jardim de infância; shogakko = da alfabetização ao sexto ano; chugakko = do sétimo ao nono ano; kokko = três anos do ensino médio. Para passar para o ensino médio, que não é obrigatório (mas mesmo assim quase toda a população faz) é necessário fazer prova de admissão, o que acostuma os japoneses na competição por vagas, visto que os vestibulares das universidades são muito disputados. Por conta disso, tornaram-se populares no país os jukku, que são cursinhos que oferecem aulas extras desde as séries iniciais. Mesmo que o estudante não precise, normalmente é colocado no jukku diariamente, após sair da escola, para que não corra o risco de ficar com a imagem de incapaz perante os colegas.
A rotina das escolas é extremamente rigorosa e seguida sem exceções de acordo com o planejamento. As aulas começam por volta de 8:30 da manhã e terminam por volta de 3:30 da tarde. Cada dia de aula se inicia e termina com breves reuniões de classe, para avaliar coletivamente o que é necessário melhorar nas aulas vindouras. Os professores são respeitados, muitas vezes recebidos de pé pelos alunos, com um aceno de cabeça. Os uniformes são em estilo formal, com camisas de botão, sapatos, meias longas, com proibição de acessórios que destoem do resto (assim como esmaltes e maquiagem). As escolas se mantém limpas pelos próprios alunos, professores e funcionários, pois pegar em vassouras e panos não é demérito para ninguém. Após as aulas, os alunos vão para os “clubes”, que são atividades extracurriculares na própria escola, na maioria das vezes conduzidas pelos próprios professores da instituição, e um tanto polêmicas em termos de salário, pois dificilmente os professores são pagos por elas (com a justificativa de que um dom deve ser sempre exercitado e não deve ser medido com dinheiro... Mas “ai” do professor que se recusar a exercer tais atividades!). Além dos 240 (exagerados!) dias letivos, os professores são orientados a se sentirem responsáveis pelos seus alunos até mesmo durante fins de semana e feriados, monitorando suas vidas sempre que possível e até mesmo indo em suas casas, o que não é nada assustador para as famílias, que querem sempre manter a boa aparência numa sociedade onde qualquer fofoca, ainda que seja boato, pode terminar em tragédias de orgulho manchado.
Um aspecto que considero muito válido aqui é que todo o corpo docente e administrativo deve ser trocado de tempos em tempos. Já encontrei livros que afirmaram ser a cada quatro anos, outros três, enfim... A ideia é reproduzir boas experiências em todas as escolas, lidando sempre com novos desafios. Quanto maior o sucesso adquirido em uma escola, maiores as chances daquele profissional responsável pelo feito ir para uma escola de péssima reputação em sua próxima jornada, para corrigir a situação. E, claro, há reajuste salarial neste trânsito, sim.
Outro aspecto, essencial, que me deixa até com uma ponta de inveja: música é disciplina obrigatória. Não preciso dizer mais nada.
Concluindo, deixo claro que nem tudo é perfeito. Talvez nossa mídia só enalteça os aspectos positivos do Japão diante das nossas necessidades básicas nas escolas brasileiras. Mas em outros aspectos, principalmente na criatividade e no pensamento crítico, estamos muito à frente.
Como sempre, estou aberta a dúvidas. Até a próxima!
sexta-feira, 13 de maio de 2016
De Taiko a Taibatsu: conflitos internos
Preparem-se para o desconexo.
Há semanas eu queria ter
atualizado este blog. Volta às aulas num ritmo pior que o anterior causa isso
na pessoa. Conforme os dias passaram, uma infinidade de temas surgiu na minha
cabeça, acompanhados pela preguiça, justificada pela carga atual de leituras,
de postar. Mas os dois de hoje me chamaram mais atenção.
Pois bem, vamos aos assuntos. Inquietações
me rodeiam nas últimas semanas, não consegui estabelecer um paralelo entre elas
do jeito que eu gostaria, então vou separar os pensamentos. Meu blog, minhas regras.
Estou lendo um livro chamado “The
Shogun’s Ghost: The dark side of Japanese Education”. O livro é da década de
1990, mas, segundo relatos que ouvi de nativos, a coisa não é muito diferente
nos dias atuais. O livro trata especialmente da violência física (Taibatsu) que
os professores japoneses depositam sobre seus alunos, com as mais diversas
justificativas, ainda que isso seja proibido por lei. E a penalidade para esses
professores? Existe, mas quase sempre é aliviada por muitos “bons” contatos e
tapinhas nas costas. Ou você acha que ter costas quentes só ocorre no Brasil?!
Apesar do tema do livro não ser
exatamente sobre o assunto a que vim buscar nesta terra do sol nascente, ele
mostra um Japão pouco exibido, pelo menos aí no Brasil, que muito me interessa
e faz pensar. Ao perguntar a um japonês sobre uma possível contestação à
atitude violenta de um professor, ele responde prontamente: “Mas ele é o líder”.
Submissão, medo, política da boa vizinhança? Meu estômago ainda revira a cada
página lida. E eu não sei se vou encontrar a resposta.
***
Por outro lado, admiro muito,
muito mesmo, o compromisso dos japoneses com as pessoas e com suas tarefas. Eu,
boa brasileira que sou, não hesito em combinar a mesma coisa 20 vezes (ou mais)
com as pessoas, para ter certeza que elas irão/farão. Da mesma forma, acho
normal aprender as coisas pra “ver qual é”. Com dificuldade, tenho aprendido, a
cada dia, a entender esta mentalidade oposta à minha. Você combinou? Faz. Você
quer aprender? Então aprenda, até o final. E isto eu pude ver, de perto, nos
dois ensaios de Taiko (tambores japoneses) que participei, para ver se me
adaptaria ou não (adivinhem a resposta! Haha...). Tudo é levado extremamente a
sério, e assim deve ser, para que funcione bem, com bom desempenho. No último
show de Taiko que assisti, vi estampado em toda a performance de um brasileiro,
este sentimento de pertencimento a um grupo, com todo o mérito que um grande esforço
proporcionou. E o que considero ainda mais bacana é imaginar o que passa na cabeça
de descendentes, como ele, ao se deparar com uma cultura tão diferente da nossa,
mas que por razões óbvias são próximas a eles. Imagino que seja uma ótima oportunidade,
já que muito dos costumes se perdem nas famílias de imigrantes ao longo dos
anos.
Aqui vai uma foto dele, com
permissão! Foi um momento muito alegre J
***
Da violência escondida à diversão
regrada: este país é meu maior desafio!
sexta-feira, 1 de abril de 2016
Entendendo Emojis
Olá, pessoal! Hoje vou falar um pouco sobre aquele teclado cheio de desenhos que temos no celular, os emojis.
Desde as primeiras semanas aqui no Japão, passei a ter momentos de surpresa ao entender o significado de alguns emojis, já que a criação destes caracteres é de origem japonesa.
Sendo assim, resolvi escolher alguns deles para explicar o significado. Se você tem dúvida sobre algum que não esteja aqui, entre na página do Emojipedia (em inglês): http://emojipedia.org/
Vamos aos emojis!
Este gesto significa "não" (Dame), na linguagem corporal japonesa. Aqui não existe o "não" com indicador levantado, igual fazemos no Brasil. Eles sempre cruzam os braços desta forma.
Esta mochila é chamada de "randoseru" e é uma tradição no Japão. Usada durante todo o ensino fundamental, é feita de couro, é cara e normalmente é um presente dos avós. Saiba mais em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/videos/t/edicoes/v/criancas-japonesas-usam-sempre-mochilas-iguais-que-duram-anos/4805821/
"Mizaru, Kikazaru, Iwazaru" são os três macaquinhos que representam não olhar, não escutar e não falar nada que seja do mal. São muito famosos na cidade de Nikko.
Este cão é da raça Akita, muito comum no Japão, sendo muito famosa pelo filme "Para sempre ao seu lado".
Esta é a sakura, a flor da cerejeira, um dos símbolos mais famosos que representam o Japão.
Esta onda é parte do quadro (feito em xilogravura) chamado "A grande onda de Kanagawa", feito entre 1830 e 1833 pelo artista Katsushika Hokusai.
Este melão é bem diferente dos que estamos acostumados a consumir no Brasil. Os japoneses adoram esta fruta, mas só quem tem muito dinheiro consegue comprar, pois pode custar entre 300 e 500 reais, dependendo da época!
Aqui temos três tipos de comida. O primeiro é o tradicional Ramen, que conhecemos como miojo, mas que aqui é preparado e servido de maneira diferente, na maioria das vezes. O segundo não especifica a comida que tem dentro, mas parece ser a Missoshiru, que é a tradicional sopa de soja com legumes e algas, consumida em quase todas as refeições diárias dos japoneses. O terceiro não é um biscoito doce, como sempre pensei! É kamaboko, uma massa de peixe que se come fatiada, mergulhada nas sopas. Essa em formato espiral, como no emoji, recebe o nome de Narutomaki, por lembrar os redemoinhos na cidade de Naruto.
Agora quatro tipos de comida: o primeiro é Bento, que não é comida, mas sim a marmita que os japoneses carregam pro trabalho ou escola com muito orgulho, todos os dias. O segundo, que eu sempre achava que era arroz e feijão, é arroz com Kare, o famoso curry, que normalmente acompanha algum tipo de carne. O terceiro é Onigiri, que nada mais é do que arroz recheado com alguma coisa (peixe, frango, legumes, etc) e coberto com alga (nori). O quarto é apenas arroz cozido (Gohan), o alimento mais consumido e apreciado no Japão, puro, simples e sem tempero.
Desde as primeiras semanas aqui no Japão, passei a ter momentos de surpresa ao entender o significado de alguns emojis, já que a criação destes caracteres é de origem japonesa.
Sendo assim, resolvi escolher alguns deles para explicar o significado. Se você tem dúvida sobre algum que não esteja aqui, entre na página do Emojipedia (em inglês): http://emojipedia.org/
Vamos aos emojis!
Este gesto significa "não" (Dame), na linguagem corporal japonesa. Aqui não existe o "não" com indicador levantado, igual fazemos no Brasil. Eles sempre cruzam os braços desta forma.
Esta mochila é chamada de "randoseru" e é uma tradição no Japão. Usada durante todo o ensino fundamental, é feita de couro, é cara e normalmente é um presente dos avós. Saiba mais em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/videos/t/edicoes/v/criancas-japonesas-usam-sempre-mochilas-iguais-que-duram-anos/4805821/
"Mizaru, Kikazaru, Iwazaru" são os três macaquinhos que representam não olhar, não escutar e não falar nada que seja do mal. São muito famosos na cidade de Nikko.
Este cão é da raça Akita, muito comum no Japão, sendo muito famosa pelo filme "Para sempre ao seu lado".
Esta é a sakura, a flor da cerejeira, um dos símbolos mais famosos que representam o Japão.
Esta onda é parte do quadro (feito em xilogravura) chamado "A grande onda de Kanagawa", feito entre 1830 e 1833 pelo artista Katsushika Hokusai.
Este melão é bem diferente dos que estamos acostumados a consumir no Brasil. Os japoneses adoram esta fruta, mas só quem tem muito dinheiro consegue comprar, pois pode custar entre 300 e 500 reais, dependendo da época!
Aqui temos três tipos de comida. O primeiro é o tradicional Ramen, que conhecemos como miojo, mas que aqui é preparado e servido de maneira diferente, na maioria das vezes. O segundo não especifica a comida que tem dentro, mas parece ser a Missoshiru, que é a tradicional sopa de soja com legumes e algas, consumida em quase todas as refeições diárias dos japoneses. O terceiro não é um biscoito doce, como sempre pensei! É kamaboko, uma massa de peixe que se come fatiada, mergulhada nas sopas. Essa em formato espiral, como no emoji, recebe o nome de Narutomaki, por lembrar os redemoinhos na cidade de Naruto.
Agora quatro tipos de comida: o primeiro é Bento, que não é comida, mas sim a marmita que os japoneses carregam pro trabalho ou escola com muito orgulho, todos os dias. O segundo, que eu sempre achava que era arroz e feijão, é arroz com Kare, o famoso curry, que normalmente acompanha algum tipo de carne. O terceiro é Onigiri, que nada mais é do que arroz recheado com alguma coisa (peixe, frango, legumes, etc) e coberto com alga (nori). O quarto é apenas arroz cozido (Gohan), o alimento mais consumido e apreciado no Japão, puro, simples e sem tempero.
Mais comida! O primeiro é Senbei, biscoito de arroz envolto em alga. O segundo é Oden, um espetinho salgado que normalmente leva massa de peixe, nabo e ovo. O terceiro é Dango, um espetinho doce feito de goma de arroz (chamada de Mochi) que pode ter cores variadas de acordo com os ingredientes usados (o verde é de chá verde e o rosa ainda não identifiquei...hahaha...mas adoro!)
Agora, bebidas. O primeiro é uma garrafa e um potinho de beber Sake (Saquê, no Brasil). O segundo é chá verde (aqui chamado de Matcha).
Torre de Tóquio ou Tokyo Tower, como preferirem. NÃO É A TORRE EIFFEL! Cansei de ver gente indo a Paris e colocando este emoji nas fotos...
Monte Fuji, o maior do Japão, é um vulcão com mais de 3700m de altitude.
O primeiro é Tsukimi, celebração de observar a lua no outono, com as oferendas de dango e grama Susuki. O segundo, pra quem nunca prestou atenção às aulas de Geografia (cof, cof, cof...) é um mapa do Japão!
Modelo de castelo na tradicional arquitetura japonesa.
Correios do Japão. Este símbolo vermelho representa o katakana テ (te), que é uma das sílabas da palavra "tegami", que significa "carta".
Torii, o tradicional portal dos templos xintoístas.
O primeiro representa as bandeiras de carpa, erguidas no dia das crianças (originalmente dia dos meninos), Kodomo no Hi, que é em 5 de maio. As carpas representam a força e a coragem para alcançar objetivos, pois há uma lenda em que uma carpa nadou contra a corrente e conseguiu se transformar em um dragão. O segundo representa as bonecas do dia das meninas, ou Hina Matsuri, comemorado em 3 de março.
Maru (O) e Batsu (X) são os símbolos que representam certo e errado, respectivamente. Em uma prova, por exemplo, ver um círculo ao lado da resposta significa que ela está correta.
O último símbolo que escolhi para esta postagem é muito utilizado nos mapas turísticos e representa as saunas públicas, chamadas de Onsen.
Espero que tenham gostado de aprender um pouco mais sobre o Japão com esta forma moderna e divertida de se expressar!
Até breve! Matane...またね
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