sexta-feira, 13 de maio de 2016

De Taiko a Taibatsu: conflitos internos

Preparem-se para o desconexo.

Há semanas eu queria ter atualizado este blog. Volta às aulas num ritmo pior que o anterior causa isso na pessoa. Conforme os dias passaram, uma infinidade de temas surgiu na minha cabeça, acompanhados pela preguiça, justificada pela carga atual de leituras, de postar. Mas os dois de hoje me chamaram mais atenção.

Pois bem, vamos aos assuntos. Inquietações me rodeiam nas últimas semanas, não consegui estabelecer um paralelo entre elas do jeito que eu gostaria, então vou separar os pensamentos. Meu blog, minhas regras.

Estou lendo um livro chamado “The Shogun’s Ghost: The dark side of Japanese Education”. O livro é da década de 1990, mas, segundo relatos que ouvi de nativos, a coisa não é muito diferente nos dias atuais. O livro trata especialmente da violência física (Taibatsu) que os professores japoneses depositam sobre seus alunos, com as mais diversas justificativas, ainda que isso seja proibido por lei. E a penalidade para esses professores? Existe, mas quase sempre é aliviada por muitos “bons” contatos e tapinhas nas costas. Ou você acha que ter costas quentes só ocorre no Brasil?!

Apesar do tema do livro não ser exatamente sobre o assunto a que vim buscar nesta terra do sol nascente, ele mostra um Japão pouco exibido, pelo menos aí no Brasil, que muito me interessa e faz pensar. Ao perguntar a um japonês sobre uma possível contestação à atitude violenta de um professor, ele responde prontamente: “Mas ele é o líder”. Submissão, medo, política da boa vizinhança? Meu estômago ainda revira a cada página lida. E eu não sei se vou encontrar a resposta.

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Por outro lado, admiro muito, muito mesmo, o compromisso dos japoneses com as pessoas e com suas tarefas. Eu, boa brasileira que sou, não hesito em combinar a mesma coisa 20 vezes (ou mais) com as pessoas, para ter certeza que elas irão/farão. Da mesma forma, acho normal aprender as coisas pra “ver qual é”. Com dificuldade, tenho aprendido, a cada dia, a entender esta mentalidade oposta à minha. Você combinou? Faz. Você quer aprender? Então aprenda, até o final. E isto eu pude ver, de perto, nos dois ensaios de Taiko (tambores japoneses) que participei, para ver se me adaptaria ou não (adivinhem a resposta! Haha...). Tudo é levado extremamente a sério, e assim deve ser, para que funcione bem, com bom desempenho. No último show de Taiko que assisti, vi estampado em toda a performance de um brasileiro, este sentimento de pertencimento a um grupo, com todo o mérito que um grande esforço proporcionou. E o que considero ainda mais bacana é imaginar o que passa na cabeça de descendentes, como ele, ao se deparar com uma cultura tão diferente da nossa, mas que por razões óbvias são próximas a eles. Imagino que seja uma ótima oportunidade, já que muito dos costumes se perdem nas famílias de imigrantes ao longo dos anos.

Aqui vai uma foto dele, com permissão! Foi um momento muito alegre J


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Da violência escondida à diversão regrada: este país é meu maior desafio! 

5 comentários:

  1. Cada vez mais eu tenho a sensação que o Japão não é um país. O Japão é na verdade uma colméia cheia de abelhas de olhos puxados.

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  2. Cada vez mais eu tenho a sensação que o Japão não é um país. O Japão é na verdade uma colméia cheia de abelhas de olhos puxados.

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    1. Beeeeem por aí, salvo raríssimas (e caladas) exceções.

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  3. Vantagens e desvantagens da ordem. Talvez a mesma organização e determinação seria fragilizada ao questionar o líder. Esse texto me fez lembrar das organizações militares, onde o soldado não tem espaço para questionamento.
    No Brasil, tentamos melhorar a educação, mas também vivemos anos onde há abuso dos direitos e desconhecimento dos deveres. Adquirir alguns aspectos japoneses seria ótimo!

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