Eu não sabia o que eu iria fazer lá, apenas fui informada de que iríamos visitar. Imaginei uma visita rápida, com as atenções voltadas a nós (estrangeiros), com possíveis conversas com professores locais e talvez alguma ensaiada apresentação nossa em japonês (estou craque em fazer isso já). Chego ao colégio e me deparo com uma feira de conhecimentos. Logo penso: "Vou ver toda a tecnologia e as melhores performances que o Japão pode oferecer em uma escola." Por minutos, enquanto atravessava o portão e o primeiro pátio, pensava em robôs, sensores, etc.
Sabem o que vi?! Vamos à lista:
- Cartazes: Sim, cartazes! Aquela cartolina básica, pintada com lápis de cor e canetinha, com informações que provavelmente muita gente já sabe, mas que para aqueles alunos representava aquilo que estavam aprendendo. Era simples, mas era completo. Do pouquíssimo que entendo de japonês, dava para perceber que não tinha trabalho mal feito, "empurrado com a barriga", tudo tinha introdução, desenvolvimento e conclusão, além das fontes dos dados.
- Trabalhos manuais: Foi uma das partes que mais gostei. A arte sempre me encantou! Tinha desenhos à lápis, à caneta, recortes, pequenas esculturas, origamis, pinturas... Alguns mais detalhados, digamos perfeitos, outros nem tanto, mas com notável esforço empregado.
- Maquetes: toda feira tem a clássica maquete do vulcão! No Japão não é diferente! Tinha a do vulcão, a do trem, a da flora e fauna, a dos deslizamentos... Com isopor, argila, tinta e muito capricho! <3
- Seres vivos: quando possível e permitido, por que não explicar certos bichinhos e plantas?!
- Reações químicas: outro clássico das feiras de conhecimento, com coisas que explodem, mudam de cor, fedem, somem...
- Música: foi maravilhoso o show! Os meninos da filarmônica arrebentaram!
Bem, se tudo foi como em muitas feiras que estamos habituados a ver nas nossas escolas brasileiras, por que escrevo este texto? Vamos às diferenças:
- Não vi uma confusão entre alunos. Ninguém brigou com ninguém por "ter dado a hora de revezar para ir embora", por "não ter espaço e material suficiente", pelo "professor não ter chegado ainda", e por aí vai...
- Não vi um lixo no chão. Ninguém se aproveitou de um grande evento para dar uma de relaxado e deixar que os organizadores limpassem.
- Não vi professores desesperados, afobados, tendo que "salvar trabalhos" na última hora, para ter algum reconhecimento.
- Não vi um sinal de escola depredada. E não pensem vocês que tudo é novo e sempre reposto, não! Tem móveis e equipamentos visivelmente antigos, gastos com o tempo e o uso, mas que ainda são muito úteis e ninguém deu a desculpa de "estar velho demais, depois a escola compra outro" para quebrar, rabiscar e estragar. O mesmo vale para as paredes, escadas, portas, maçanetas, etc.
- Não vi gente impaciente. Todo mundo esperou a vez de todo mundo, fosse na fila da comida, da bebida, das apresentações...
Eu vi boa vontade. Alunos que realmente querem estudar. Professores que provavelmente (com certeza, vai...) são valorizados e conseguem realizar excelente trabalho. Vi coisas simples, não inéditas, mas esmiuçadas ao máximo para que realmente houvesse absorção do conhecimento, e não apenas uma grande tentativa de performance daquilo que não se aprendeu apenas para atrair público. Vi disciplina, sem terror nem demagogia.
Caros colegas, não tem mistério. O giz ainda existe aqui! A profundidade dos assuntos é que faz a diferença.
Que animador ver que não é necessário nada mirabolante nem professores-animadores para se atingir o aprendizado! Basta dedicação, comprometimento, exemplo e vontade e determinação!
ResponderExcluirMuito legal esse post! Me lembrou a frase "para se fazer uma revolução, basta cumprir as regras."
ResponderExcluirQue maravilhoso! Lindo saber que em algum lugar do mundo ainda existem alunos dedicados, educados, interessados em aprender!
ResponderExcluirQue maravilhoso! Lindo saber que em algum lugar do mundo ainda existem alunos dedicados, educados, interessados em aprender!
ResponderExcluirMuito legal Ana!! Como dizem por aí, o essencial é simples! Não precisa "enfeitar o pavão" para mostrar o que de fato interessa.
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